tapioca da boa!


Eu faço tapioca com frequência. É algo simples e rápido de se preparar e sustenta bem, por isso costumo prepará-las no café da manhã. Compro em uma loja de produtos nordestinos a farinha de goma de tapioca já hidratada e pronta para usar, então não há muito mistério, basta você observar alguém fazendo duas ou três vezes que você já terá confiança o suficiente para tentar fazer a sua. Basta esquentar a frigideira, despejar um pouco da farinha, espalhar bem, aguardar a massa se unir e virar uma coisa só, daí você vira para cozinhar do outro lado, recheia e dobra. Simples como um rap desses que a gente compra pacotes no mercado para fazer rapidinho.

Toda semana eu faço tapioca e tudo o que eu faço com frequência me aguça o senso crítico, porque eu começo a reparar nos detalhes. Então eu percebi que no momento que eu despejava a farinha na frigideira, a farinha que ficava por cima costumava empelotar. Quando eu virava a tapioca, essas pelotinhas endureciam e apesar do sabor ser o mesmo, dava na boca uma sensação não agradável, de algo feito de forma grosseira.

Nessa manhã, quando cheguei no meu momento de desjejum, resolvi fazer diferente. Pequei uma peneira grande, dosei a quantidade de farinha que iria usar em um copo e quando a frigideira começou a esquentar, coloquei a peneira delicadamente sobre ela e com movimentos circulares fui derramando a goma e esfregando com a borda do copo contra a tela, fazendo uma leve pressão. O polvilho pousou sobre a superfície quente e formou uma leve camada que não precisou ser espalhada com uma colher. Ao virar o beiju, uma linda superfície branca se manteve, pronta para receber o queijo meia-cura que sempre uso. Quando provei, percebi que era a melhor tapioca que, não só eu já teria feito como também já havia provado. Era o mesmo sabor de todas as manhãs que preparei nós últimos quatro meses, só que dessa vez parecia ter sido feita por uma profissional, dessas senhoras que fazem tapiocas na beira da praia uma vida toda.

Isso me fez pensar em uma frase que tenho ouvido com certa frequência: "O bom é inimigo do ótimo". Quantas vezes nós nos envolvemos com projetos que poderiam nos trazer uma satisfação enorme ou um propósito de vida, mas durante o desenvolvimento isso não acontece? Há momentos em que a vida parece ser apenas uma engrenagem na qual rodamos e rodamos sem nunca ver o fim. Eu penso que isso tem relação com nossas escolhas.

Começa pela busca por algo que você não quer. Parece estranho falar assim mas tem gente que trabalha em uma determinada função porque precisa do seu sustento, mas não vê o trabalho em si como algo que lhe agrada, muito pelo contrário, um mal necessário. É claro que, se formos olhar para o nosso país, a maioria não teve escolha pois não teve oportunidade de estudar, se capacitar ou procurar algo melhor, mas isso é só um exemplo, você pode procurar outro que te sirva. O que eu quero dizer é que estabelecemos objetivos sem se importar com o caminho para atingí-lo e quando (se) conseguimos alcançá-lo, muitas vezes não valeu a pena. Quanto tempo custou de sua vida, quantas pessoas você deixou para trás, quantas outras oportunidades de se chegar ao mesmo lugar de forma mais fácil você não percebeu, porque simplesmente você não estava prestando atenção no caminho. Quando você escolhe um destino, você também está escolhendo o percurso. É o se incomodar com as pelotinhas de farinha e procurar uma forma de fazer melhor.

O apóstolo S. Pedro diz em sua primeira carta: "Agora, porém, sejam santos em tudo que fizerem, como é santo [Cristo] aquele que os chamou." (1 Pedro 1:15). Os santos aqui são os aperfeiçoados. Perceba que ele não coloca esse estado como um objeto, mas sim como um meio pelo qual fazemos todas as outras coisas. Não é sobre positivismo e produtividade e sim sobre não se contentar com o ruim, o mal feito ou a injustiça.

A vida não precisa ser sofrida só por que você ainda não é o que pretende ser. O processo ou caminho é o que realmente te fará ser, então, aproveite cada minuto, aprenda tudo que conseguir e descanse sempre que puder, mas mais do que tudo, escolha um caminho que te dê prazer de percorrer.


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