Sociedade estática

Quem vive em uma cidade grande como São Paulo tem como obrigação ser uma pessoa agitada, salvo raríssimas exceções. Tudo fica longe, tem trânsito lento ou tem fila. Assumimos tantos compromissos que a antiga expressão "pensando na morte de bezerra", aplicada à pessoas distraídas, tem caído em desuso; não há mais tempo, nem sequer para procrastinação, quanto mais para o descanso! Os intervalos entre o trabalho e a faculdade, a academia e o curso são preenchidos apenas pelo percurso - sem descanso - e mesmo no transporte estamos estudando, trabalhando ou alimentando nossas redes pseudo-sociais, que mais afastam do que aproximam pessoas.

Marina Colassanti diz em seu texto Eu sei, mas não devia: "a gente se acostuma...", mas acredito que não. Na verdade nós toleramos. Acumulamos tanto cansaço e estresse que nos tornamos pequenas represas de tensão que cedo ou tarde transbordam, ou pior, arrebentam. Os resultados são apresentados de varias formas, as vezes físicas, outras emocionais.

Os técnicos em zootecnia dizem que os frangos em um grande frigorífico estão sob tanto estresse devido ao confinamento, superlotação e pouco sono, que um simples bater de palmas mataria muitas aves de susto. Estamos vivendo da mesma forma. Faça uma rápida pesquisa sobre os índices de acidentes no trânsito causados por brigas ou quantos chamados a Polícia Militar recebe por desentendimentos entre familiares ou vizinhos e você verá que não estamos conseguindo conviver em comunidade. No metrô, principalmente em horários de pico, as pessoas se empurram e se espremem, xingam e até agridem fisicamente outro cidadão, que como eles, está apenas tentando chegar ao trabalho. Como se estivessem cobertos por uma eletricidade estática, um simples esbarrão "dá choque" e se transforma em uma ofensa digna de satisfação.

A Síndrome do Pensamento Acelerado, somada ao consumismo desenfreado formam um sentimento de insatisfação constante e estimulam a idealização de um status inalcançável de "qualidade de vida", fazendo com que o indivíduo se sinta sempre atrasado na vida. Cada vez mais cedo as crianças  vão para a escola e passam o dia todo estudando e fazendo cursos extracurriculares a fim de estarem preparados para o mercado de trabalho.

É preciso, urgentemente, uma conscientização de que estamos doentes. Se não alterarmos o nosso estilo de vida, reconhecendo que uma boa alimentação e uma boa noite de sono, além de saudáveis podem melhorar nossa produtividade e relacionamento social, continuaremos em um declive imensurável na humanidade. 

Quando ficamos esgotados, focamos instintivamente apenas em nossas necessidades e deixamos de se importar com o outro. Sem compaixão e empatia não é possível viver em sociedade. Conviver é viver com o outro e precisamos do outro.

Comentários